Redescobrir o mundo rural

terça-feira, novembro 22, 2005

Um Almoço Incrível



No dia 22 de Novembro todos comemos na Escola do Raminho.
Os pais da Maria Clara ofereceram aos alunos, docentes e auxiliares um almoço muito tradicional, em agradecimento ao Espírito Santo por uma graça concedida à sua filhota mais pequena, a Mariana.
A ementa do almoço servido foi a seguinte:
Sopa do Espírito Santo: é feita com o caldo de carne e leva pão cortado em grossos nacos e algumas folhas de repolho.
Cozido: com grandes postas de carne de vaca, linguiça, batata-doce, batata da terra, cenoura e repolho aos quartos.
A sobremesa foi um delicioso arroz doce à moda do Raminho.
Alguns elementos da família vieram ajudar na confecção dos pratos: a mãe, o pai, a prima e a avó.
Todos juntos partilhámos o almoço e confraternizámos um bocadinho.
No final a família ofereceu brindeiras de massa sovada e as crianças beijaram o ceptro do Espírito Santo.

A escola também se constrói pelas histórias de vida dos alunos e das suas famílias, pelos momentos de afectos e de solidariedade que nos fazem viver, pensar e crescer…
À família Costa aproveitamos para agradecer e desejar votos de muitas felicidades nas suas vidas e que o Espírito Santo oriente e guie sempre os vossos passos.

A Escola do Raminho

sexta-feira, novembro 18, 2005

Um casamento no Raminho




O alcance dos usos e costumes locais…

Nem só a paisagem natural é singular nesta freguesia também o é a paisagem humana e, por isso, decidi transcrever o relato de um casamento no Raminho.

«Pois fui ao Raminho assistir a um casamento. O que eu vi foi tão curioso que me dispus a revelá-lo aos nossos possíveis leitores.
Convidado por parte da família do noivo, para casa dele me dirigi. Lá foram chegando depois os convidados dessa parte. Em certa altura vi aproximar-se um magote maior de homens. Todos entravam na sala onde estavam várias pessoas da família da casa e as senhoras – lindas senhoras! – suas convidadas.
Um por cada vez se dirige à mesa colocada no meio do aposento, sobre a qual estavam cálices, que iam enchendo de aguardente, e grandes fatias de bolo, um pouco arrufadas de Coimbra. Todos bebem, tiram fatias e saem.
Depois, um dos convivas que eu vim a saber ser o pai da noiva, dirige-se aos seus futuros “parceiros” e pergunta-lhes”se dão ordem para o noivo, o Francisco, sair de casa”.Os pais deste dizem que sim, não sem que vertam sentidas e naturalíssimas lágrimas.
Antes de sair, porém, os seus convidados, que têm estado fora a aguardar que saiam os da noiva, entram também em casa e servem-se de aguardente e do bolo, pois é desconsideração não o fazer. Está-se a ver que eu também tive de provar…
Se até aqui o caso já de si era curioso, mais original se ia tornar.
O noivo, rodeado pelos convidados, levava a seu lado todos os seus amigos que empurravam uma garrida saca.
Logo ali, no limiar da porta, noto que várias pessoas deitam para dentro do saco pratos e bandejas de trigo, coisa, todavia, de que iria ter explicação mais adiante.
Pela rua fora vejo, em todas as portas, outras pessoas com mais pratos cheios do precioso grão, que ia sendo deitado para o saco, acompanhado sempre da frase que se me havia de gravar na memória por largos tempos.
- A nossa casa fica às ordens!
Curioso, vim a saber que é uso na terra oferecer aos noivos, no seu dia grande, o trigo que lhes dê a abastança nos primeiros tempos.
Chegados a casa da noiva todos os convidados voltam a entrar para se servirem de aguardente e bolo que agora a família da donzela oferta.
A noiva aparece. Que distinção! Apesar de ser filha do povo, deste bom povo da Terceira, ela não se envergonharia de casar aí na igreja de Santa Cruz ou na Sé Nova pelo meio dia de Domingo, que é quando se realizam as paradas elegantes da nossa terra…
Até à igreja os noivos continuam a receber mais trigo lançando-lhes algumas pessoas grãos em cima, como nas nossas aldeias fazem com confeitos.
A cerimónia religiosa foi trivialíssima…
À saída, dos noivos, já ao lado um do outro, percorrem outras ruas, onde os seus amigos continuam a encher os sacos de trigo – tanto, que eu calculei que não devem ter necessidade de comprar mais no corrente ano.
Findo um banquete servido ao ar livre a mais de duzentas pessoas, os convidados entram em casa a despedir-se dos noivos, que ali tinham, pela primeira vez, jantado juntos, com mais algumas pessoas de cerimónia.
E, então, aquelas muitas dezenas de pessoas, apertando as mãos aos nubentes, invariavelmente empregavam a frase cantante – que ainda mantenho nos ouvidos:
- A nossa casa fica às ordens!
- E a nossa também! – respondiam os noivos enlevados
Só um assistente não o pode empregar, como era seu desejo: fui eu, que a tenho a muitas centenas de quilómetros.
E é isto um casamento no Raminho, linda terra, sobranceira ao mar.»

Carta enviada pelo Tenente Roque dos Reis para o «Diário de Coimbra», arquivada no Almanaque Açores para 1944, pgs. 76/78

… e a solidariedade floresceu no dia de um casamento no Raminho.

Agradeço às mães as lindas flores e todo o carinho e compreensão que me têm dedicado sempre. Agora puderam perceber como a professora dos vossos filhos também fica constrangida perante as audiências.
Obrigada pela vossa nobreza de sentimentos.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Eu ouvi um passarinho às quatro da madrugada...


Hoje quero brindar-vos com uma linda canção dedicada a todos os emigrantes. Esta foi ensinada pelos avós que pertencem ao grupo de idosos da freguesia, coordenado pela senhora Dina Soares, que dinamizou e animou algumas actividades com os alunos da EB1/JI do Raminho.


I
O Raminho quando canta
Recordando a tradição
Traz a alma na garganta
E o sonho no coração
Coro
Eu ouvi um passarinho
Às quatro da madrugada
Numa casa do Raminho
Onde vive a sua amada
Por ouvir cantar tão bem
A sua amada chegou
Por isso pra mais ninguém
O passarinho cantou
II
Raminho nunca mais finda
O amor que tenho por ti
Tu és a coisa mais linda
Como ainda nunca vi
III
Tens muitos filhos ausentes
Por esse mundo além
Mas estão sempre presentes
Porque lhes queres muito bem
IV
Lembram o teu Império
E os teus antepassados
E a Pia do Baptistério
Onde foram baptizados
V
Não esquece a tourada
Nem o cortejo de oferendas
E uma boa sardinhada
No teu Parque de Merendas
VI
Do Miradouro ninguém esquece
Nem da Vigia da Baleia
Raminho até parece
Que não nos sais da ideia
VII
Para ti quero voltar
Se nada me acontecer
Raminho quero acabar
Na terra que me viu nascer
Coro
Eu ouvi um passarinho
Às quatro da madrugada
Numa casa do Raminho
Onde vive a sua amada
Por ouvir cantar tão bem
A sua amada chegou
Por isso pra mais ninguém
O passarinho cantou
Manuel Ourique

sexta-feira, novembro 11, 2005

Intercâmbio Escolar de São Martinho – Uma pedagogia para a pequenada…
















Uma pedagogia para a pequenada…


As Escolas do Raminho e Altares em conjunto com o Professor de apoio à área da Educação Física, Rui Martins, organizaram o intercâmbio de São Martinho.
Os protagonistas deste encontro foram os alunos.
Dinamizaram-se diversas actividades que incluíram estafetas, expressão plástica, jogos: Atirar o Balão, Pescando para o Futuro, Urso Negro e uma reflexão sobre os valores.
Algumas destas actividades práticas permitiram abordar questões ambientais para a concretização de alguns conceitos complexos como o desenvolvimento sustentável e a importância da gestão adequada dos recursos do planeta – uma responsabilidade de todos.
A Escola do Raminho congratula-se com a visita das crianças dos Altares, dos colegas e das auxiliares de acção educativa.
Esperamos que este dia fique na memória pelas aprendizagens, convívio e amizade.
Voltem sempre!

terça-feira, novembro 08, 2005

Lenda do Raminho

Como é do conhecimento de todos, nestas freguesias terceirenses e nos Açores em geral, já há muitos anos ou mesmo alguns séculos que se venera o Espírito Santo, sendo este representado pelos símbolos da Coroa e do Ceptro.
Ora, aqui no Raminho, como é uma freguesia devota do Senhor Espírito Santo, também existem os símbolos do Divino Espírito Santo, ou seja, as coroas que são duas e os respectivos ceptros. As coroas são uma antiga e outra mais nova.
Segundo reza a lenda, que já há muitos e muitos anos vem sendo contada de pais para filhos e de avós para netos, havia duas coroas antigas iguais e uma delas foi roubada por um homem da freguesia dos Altares.
No Raminho, as pessoas tanto investigaram que descobriram o autor do roubo e lá foram a casa desse homem, o qual guardava a dita coroa numa arca de madeira.
Estava ele sentado na respectiva arca e jurou ali mesmo que não tinha a coroa e, disse mais, que se a coroa estivesse naquela casa que lhe caíssem as orelhas.
Ora, passado pouco tempo, o dito homem foi atormentado por uma terrível doença de pele que lhe causou a queda das orelhas.
Aqui está a narração da lenda da «Coroa Roubada».

Recolha feita pelos alunos Paulo Barcelos e Hugo Costa

Aproveito para divulgar que existe a ilustração da lenda realizada pela irmã do Paulo e que está linda!

quinta-feira, novembro 03, 2005

O Pão-por-Deus


Festejar o Pão -por -Deus na freguesia do Raminho

Antigamente:

Com alegria passava-se aquele dia!
No dia 1 de Novembro, todas as crianças saíam de casa muito contentes, formavam grupos e iam percorrer a freguesia inteira cantando com as suas lindas vozes meigas, de porta em porta:
Pão-por-Deus
Que Deus nos deu
Uma esmolinha
Por amor de Deus
Por alma dos defuntos
De vossemecê.
Na nossa terra, ainda hoje dizemos esta cantilena, ao pedir Pão-por-Deus.
Já no tempo dos nossos avós, as crianças iam pelas casas da freguesia fazer o peditório, no entanto, era muito diferente do que é hoje.
As pessoas davam: socas de milho, ovos, figos passados, alfenim, feijão, castanhas, araçás, batatas doces, abóboras e nozes. As prendas do Natal trocavam-se pelo Pão-por-Deus: os avós aos netos, os padrinhos aos afilhados e os namorados às namoradas.
As nossas avós costumavam fazer escaldadas por esta ocasião.
- A minha avó contou-me que fazia sempre as escaldas em tamanho pequenino para oferecer às crianças. (Clara)
- Para mim, o nosso Pão-por-Deus é muito mais bonito porque o de antigamente era muito pobre. (Susana)
As escaldadas para quem não sabe é um pão em que na sua confecção se utilizam duas farinhas: a de milho e a de trigo.
A nossa freguesia era muito abundante em cereais, principalmente o milho e o trigo, talvez por isso tenha surgido a tradição de fazer escaldadas no Pão-por-Deus.

Autores: Clara, Hugo e Susana

Trabalho de pesquisa feito pelos alunos do 3º e 4º anos