Redescobrir o mundo rural

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Um simples devaneio poético?

…no coração das nove ilhas dos Açores


- As ilhas açorianas formam um arquipélago de origem vulcânica. Dizem alguns historiadores que as ilhas são os cumes de uma imensa cadeia montanhosa afundada no oceano há muitos milhões de anos. São reminiscências da velha Atlântida, um grande continente onde viveu uma civilização rica e avançada.
- Por que razão se afundou esse continente?
- Ao que dizem alguns, porque a sua população terá caído na imoralidade mais grosseira, sendo castigada com um tremendo cataclismo em que a terra foi tragada pelo mar. Só que se afirma que esta versão é um simples devaneio poético.
“Existe ainda outra lenda, talvez mais conhecida do que todas as outras, que refere que há muitos anos teria existido a meio do Atlântico uma grande ilha, tão grande como um continente, chamada Atlântida.
“Era uma nova Shangri Lá, com um clima suave, bonitas florestas onde imperavam imponentes árvores e planícies com terrenos muito férteis. Nos seus inúmeros desfiladeiros, corriam manadas de cavalos brancos com as suas enormes crinas sacudidas pelo vento, enquanto aves coloridas enchiam o ar de bonitas melodias.
“Os atlantes eram ricos e poderosos, protagonizando as mais evoluídas civilizações do planeta. Construíram grandes e modernas cidades onde proliferavam palácios e templos com paredes revestidas de marfim e metais preciosos. As mulheres eram belas como fadas, de longos e sedosos cabelos loiros, olhos muito azuis, ostentando bonitas e raras jóias e aromas de exóticos perfumes.
“No seio das suas cidades, existiam muitos jardins, teatros e gigantescos estádios decorados com belas estátuas, esculpidas por talentosos escultores.
“A Atlântida era tão rica, que as suas jóias eram confeccionadas com um metal raríssimo só lá existente, mais valioso que o ouro, chamado oricaldo.
“No seu apogeu, o rei da Atlântida dominava todas as ilhas em seu redor, grande parte da Europa e algumas importantes parcelas do Norte de África. Enfraquecido pela dispersão das suas tropas nas terras conquistadas, acabou sendo derrotado pelos atenienses.
“A Atlântida desapareceu devido a um violento abalo sísmico, tendo sido engolida pelo mar em poucas horas restando apenas os cumes das suas mais altas montanhas que formam no presente o arquipélago açoriano.
“Na antiguidade, a Atlântida era tão célebre que as notícias a seu respeito se espalharam por todo o mundo através dos navegadores e homens de negócios. Tal facto fez com que muitos escritores e historiadores da época se referissem a ela. Platão, que viveu no século V antes de Cristo, foi o primeiro a escrever a seu respeito nos diálogos Timeu e Crítias.
“Depois dele, muita gente escreveu sobre o colossal continente desaparecido, sucedendo variadíssimas versões sobre a existência e causas do misterioso desaparecimento. Hoje em dia, existem mais de mil e quinhentas obras escritas que se referem à Atlântida e é frequente aparecerem, em profusão, artigos em variadíssimos media sobre a história e até mesmo associações que procuram afincadamente os restos da Atlântida e suas riquezas no fundo do mar.
“Voltando aos Açores, os ditos cumes da desaparecidas Atlântida são um lugar muito bonito, com o mar muito azul, despoluído, onde se encontram plantadas as nove ilhas que constituem o arquipélago açoriano.
“Cada ilha tem o seu encanto, o seu relevo, a sua história e, ainda a sua economia.

Extracto retirado do livro Os Ciganos do Mar de Valdemar de Oliveira

Os Ciganos do Mar conta a história de peixes errantes, grandes migradores, que cruzam os oceanos em estradas de água temperadas, guiados por referências muito próprias, na busca de objectivos que ninguém sabe explicar.


A importância de ouvir contar histórias…

As lendas, como parte integrante do património imaterial colectivo, contribuem para a caracterização da identidade de um povo, sobretudo numa era que tende assustadoramente para a massificação de conceitos, atitudes e, até mesmo, de línguas e culturas.
Constatamos…
- A substituição de práticas seculares de narração de histórias pelas telenovelas. Hoje praticamente ninguém se reúne para contar histórias, para ouvir histórias. Hoje consomem-se histórias diariamente na televisão. Os momentos de partilha, de conversa em família e entre amigos, os serões praticamente acabaram.

Este pedacinho da história traduz em algum sentido um pouco do tesouro que se encontra guardado no coração das nove ilhas dos Açores.

7 Comments:

At 4:24 da tarde, Blogger vidal said...

Doutor Félix
Não desapareci, mas tenho estado quase em clausura, em profunda reflexão sobre "Pensar e agir em relação ao ambiente e à natureza e Contextos Humanos e Psicologia Social... tentando apropriar-me de algumas constelações com alguma consistência mas também com alguma variabilidade. Por isso, só agora pude regressar com o meu devaneio poético!
Obrigada pelo seu incentivo.

 
At 4:53 da tarde, Blogger Desambientado said...

Obrigado Eu.
Não quero de alguma forma desincentivar a qualquer trabalho, mas como és decidida e cumpridora, e até tinhas feito uma promessa, achei estranho não teres cumprido. Claro que não há obrigação, mas fiquei desconfiado que algo de estranho se estaria a passar.
A história da Atlântida está contida no livro? Ela resulta de relatos históricos ou é uma criação do autor?
É sem dúvida uma história bonita.
Vou tentar ler o livro, quando o encontrar.
Curiosamente a Atlântida acaba de ficar na koda com as discussões que estamos a ter com a Profª Antonieta, no post que coloquei sobre os fenícios. Tudo isso junto é capaz de vir a dar um escrito final interessante...ainda não sei como...mas ideias não hão-de faltar.
Bom trabalho.

 
At 5:46 da tarde, Blogger vidal said...

Doutor Félix
Vou emprestar-lhe este livro, mas como tenho dito é apenas uma história que cativa pela sua simplicidade e nem sequer é comparável à profundidade científica de cada post que tem publicado. Julgo que seja o resultado de algumas pesquisas feitas pelo autor que também faz diversas referências às ilhas do arquipélago.
Sim, a história da Atlântida surge através de um diálogo estabelecido entre as personagens. E mais não vou contar, para não quebrar o efeito surpresa da leitura.
Um abraço
Eva

 
At 7:49 da tarde, Blogger Desambientado said...

Eva.
Os meus posts não tem profundidade científica quase nenhuma, tem como objectivo lançar a discussão e o debate.
Agradeço a disponibilidade para emprestar o livro.

 
At 8:28 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Obrigado Eva.

Recebi o livro. Quando tenho que devolvê-lo?

 
At 5:15 da tarde, Blogger vidal said...

Doutor Félix
Só estou a pensar levar o livro para a escola depois das férias, por isso esteja à vontade.
Precisava desesperadamente de trocar umas palavras consigo sobre o Projecto de Metodologia, também por sugestão da Profª Ana Arroz.
Acho que já consegui delimitar a problemática de investigação e o objecto de estudo, não estou muito certa se a pergunta de partida está bem colocada.
As dinâmicas e potencialidades do mundo rural estão para me inquietar e necessito esclarecer melhor esses conceitos, que bibliografia aconselha?
Desculpe, mas como não o consigo encontrar na Universidade aproveitei este espaço para chegar até si.
Um abraço

 
At 7:30 da tarde, Blogger Desambientado said...

Eva
Tenho tido aulas na Escola de Enfermagem, daí que de vez em quando não esteja o tempo todo na Universidade. Sexta-feira da parte da tarde estarei lá em cima.

 

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